Eu digo quem você é


-Olá Alfredo, sentimos por sua mãe.
-Acho que a senhora está me confundindo com outra pessoa.
-Não Alfredo, eu sei exatamente quem és tu.
-Tenho certeza que está, para início de conversa meu nome é Carlos.
-É uma situação terrível Alfredo, mas negar a realidade não vai mudá-la.
-Que realidade? Quem quer mudá-la? Tenha paciência, eu nunca te vi senhora, tu nunca me viu e acha que sabe alguma coisa sobre minha vida.
-Nos conhecemos há muito Alfredo, sei quase tudo sobre a sua vida. Sei que mora na Rua da Independência, numero 407. O nome de sua mãe é Maria.
-Rua da independência? A senhora chega  ser risível, eu moro no centro, na Avenida dos Perdizes. Olhe como estou vestido, já viu alguém nessa ruazinha se vestir assim? Ah! E o nome da minha mãe é Lurdes e ela está ótima.
-Apesar da sua deselegância, te mostro a prova. Aqui está a cópia da documentação que você nos deu ao fazer o registro imobiliário na Rua da Independência. O senhor da foto é inegavelmente você. Olhe a assinatura, não é tua?
-Olhe senhora, o que vejo aqui é uma brincadeira de mau gosto, não tenho paciência para isso, sou um homem ocupado. Uma montagem mal feita como essa não engana uma criança. E essa assinatura não é minha.
-Também tenho mais o que fazer, apenas assine o atestado de óbito e pague a taxa.
-Assinar algo de outra pessoa? Já disse: MEU NOME É CARLOS! Até nunca mais!
-Motorista, leve-me até minha casa. Chamaram-me até aqui para fazer perder tempo.
-Desculpe senhor, mas eu não te conheço.
-Só me faltava essa Cézar, você me trouxe até aqui.
-Meu nome é Cezar, e eu espero por Carlos.
-Será que eu troquei de rosto lá dentro? Quem acha que sou eu? O Benezeu?
-Não sei.
-Legal, deve haver câmeras aqui fora também e um bocado de gente escondida pronta para gritar que isso é uma brincadeira, mas vou logo avisando que não estou com humor para isso. Pegarei um táxi Cézar e amanhã trate de buscar um novo emprego.
-Que seja.
O taxi chegou.
-Perdizes 1105.
-É para já.
O táxi anda.
-Trinte e quatro amigo.
-Tome cinquenta e fique com o troco.
-Muito obrigado.
A chave não entra na fechadura.
-Se isso for um pesadelo, eu espero um banho de água fria agora. Que droga! Que droga!
-Não estou acreditando que estou fazendo isso. Taxista por favor me leve à rua da Independência.
Na rua da independência há uma enorme comoção.
-O que é isso?
-Velório doutor.


0 comentários:

Copyright © 2013 Território Crítico